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Quando o Neo-romantismo inglês começa a engatinhar... com o technopop de Ultravox e Human League (já com uma qualidade sonora indiscutível), na cidade de Blackpool, dois irmãos, Larry e Vin Cassidy, formam ao lado de Phil um guitarrista da cidade, uma das bandas que se tornaria uma das mais saudosas dos anos 80. Uma das que mais causa emoções nos fãs de música de qualidade dos anos 80, ao lado de New Order, OMD, Xymox e Trisomie 21. Buscando o nome numa cláusula de uma lei inglesa, o Ato da Saúde Mental, forma-se a inesquecível e nostálgica Section 25. Desse mesmo ano data seu primeiro show ao vivo, há exatamente 20 anos atrás, dia 1º de junho no Cidade de Lancaster Futebol Clube. Larry é o responsável pelos belíssimos vocais e baixos que marcaram toda a década, estudou escultura no sul da Inglaterra entre 74 e 77, e frequentava a cena punk londrina levando consigo seu irmão e convencendo-o como baterista a formar uma banda. Começaram fazendo muitas covers alternadas com algumas composições próprias. Em novembro Phil deixa a banda para a entrada de Paul Wiggin.
Em 79 organizam um show em Blackpool em comemoração ao Ano Internacional da Criança, e conseguem levar os melhores artistas da Factory, Joy Division e OMD. Mr. Ian Curtis ficou impressionado com a sonoridade da banda e junto com seu empresário Rob Gretton e convidaram o Section a fazer uma gravação em Rochdale no outono, e então produzidos por Rob e Ian assinam com a Factory, talvez por isso seja tamanha a semelhança com o som do Joy seu primeiro álbum.
Peter Saville, o mago das capas dos anos 80, que fez as melhores capas de singles e álbuns dos anos 80, isso os próprios visitantes da página já elegeram (New Order e Joy Division), entra em cena com o Section 25, produzindo a capa do seu primeiro single Girls Don't Count, essas capas foram feitas numa instituição de trabalho de surdo-mudos e desenhada a mão pelo grupo, mais tarde reaparecem na versão em 12" do mesmo single, em três versões de capas com 3 garotas diferentes Jenny Ross, Angela Cassidy e Julie Waddington.
Iniciam uma série de shows na Inglaterra, a maioria deles abrindo para o Joy, mais tarde conseguem maior destaque e passam a abrir para os pop-stars da New Wave da parada britânica, começam por Toyah, depois Talking Heads e atingem seu auge abrindo para o ícone da New Romantic, o Classix Nouveuax, atingindo assim repercursão internacional. Neste auge gravam mais 2 músicas Charnel Ground e Haunted, conseguindo ser lançados em bruxelas pela Factory Benelux após abrir para o Classix. Em novembro iniciam turnê pela Europa com ACR e Vini Reilly, na sonoridade mais Manchester possível. O homem forte do ACR colabora na produção socialista da banda, característica das bandas dos 80 na Europa em crise famélica, com Red Voice.
Finalmente em fevereiro lançam seu álbum de estréia, Always Now em Londres, numa sonoridade extremamente Joy, se torna mais do que uma descoberta para a Factory, se torna a esperança de se manter no mainstream das independentes, uma vez que sua melhor banda terminou tragicamente no ano anterior no auge de seu sucesso, o best seller da Factory, o Joy. A Factory aposta todas suas fichas na tentativa de recuperar o Joy no Section, limitando o som da banda. Seu primeiro álbum é gravado sob o fantasma de Ian, numa atmosphere típica de Manchester. Desse álbum temos as maravilhas curtíssimas Friendly Fires, Loose Talk e Inside Out, no melhor estilo Joy. Mas nem tudo era tão Manchesteriano, por exemplo, chegaram a comparar seu som com Floyd e PIL, embora reconhecessem que o Section dispunha de uma originalidade incomparável incomparável, que só possível ser externada em seu segundo álbum, quando a Factory dá um pouco mais de liberdade às composições da banda. Inside Out é uma maravilha cult, já com vários efeitos sonoros e distorções meio estranhas para os críticos da época. Melt Close é uma maravilha desse álbum, com um rítmo perfeito de vocal. New Horizon tem um introdução extremamente sombria, na linha bem Trisomie que anos mais tarde dominaria as pistas underground de todo o mundo. Dirty Disco é o hit do álbum numa sonoridade bem do que viria a ser o New Order meses mais tarde. Assim Peter Saville apronta mais uma das suas e produz uma das melhores, e mais caras, packs de um álbum na história da indústria fonográfica. Capa que nunca chegou por aqui, as únicas que chegaram nas importadoras eram o relançamento da Les Tempes Modernes (a mesma do Trisomie 21), aliás por que será que a maioria dessas bandas só chegam CDs austríacos por aqui? Quem souber, please e-mail me. Essa edição inédita by terra brasilis, trazia ainda um poster da banda, vendendo já de início milhares de cópias, apesar do preço do álbum, que mesmo assim não conseguiu cobrir os gastos.
A Factory Benelux lança uma edição exclusiva com a banda cantando seu maior hit Dirty Disco em francês com o nome de Je Veux Ton Amour, em single, e mais tarde no álbum. Outra curiosidade é o lado B do single, a música One True Path que saiu no Havaí traduzido como Oyo Achel Ada, que também veio a integrar o álbum, com esse nome mais tarde. John Peel, que não perde uma, entra em cena e grava as Peel Sessions do Section 25 com One True Path, Babies in the Bardo e Hit.
O Section começa as preparações para o segundo álbum, com material novo e versões ao vivo. Passam o resto do ano de 81 envolvidos nessa empreitada. Paul Wiggin deixa a banda em Setembro, após brigar durante a turnê e se recusar a embarcar para Helsinqui quando a banda iria abrir para o New Order, que repaparecia. Enquanto preaparavam a turnê européia para dezembro e janeiro, tiveram que encontrar um percusionista John Grice além de usar fitas pré-gravadas. Por 2 vezes em shows, John ficou muito nervoso, e não aguentou a pressão dos palcos e os estádios lotados, voltando para casa, então o baterista Gary Madely continuou a turnê com a banda. Em fevereiro de 82, fazem uma curta série de shows nos estados unidos, dessa vez com Lee Shallcross na bateria. Devido a novos problemas de sonoridade (pelas fitas e inconstância de bateristas) desistiram então de fazer um álbum ao vivo.
Em junho finalmente lançam The Key of Dreams, um álbum relativamente fraco ainda sob as influências Curtianas, e uma demosntração do momento de instabilidade pelo qual passavam. Dessa vez se controlaram nas drogar depressivas, não as distribuindo junto com o álbum. Algumas músicas reaparecem, outras são novidades, aliás não tão novas, o estilo continua. destaque para The Beast, e seu lado B (no single) Sakura (versão remix), além da Je Veux... que já vimos antes. Pouca diferença do anterior, sendo que boa parte datam da época do primeiro álbum, não convence.
Lançam o single da melhor música do álbum The Beast, com 2 versões pra Sakura e Trident (instrumental ao vivo, da tour americana). Pode-se dizer que Sakura é o primeiro passo da banda à nova ordem européia... a música eletrônica, também... não é de se espantar, foi produzido por Summer do New Order. A música Hold Me ganha espaço numa coletânea holandesa chamada Hours, anos mais tarde em outra coletânea, dessa vez da Les Tempes Modernes - Heures Sans Soleil.
Finalmente começa a fase evolutiva da banda, onde faz suas principais canções e dos anos 80. Começam a trabalhar os sons dos teclados, a estudar os sintetizadores e investigar os efeitos eletrônicos. Finalmente chamam a esposa de Larry para tocar junto Jenny Ross, que também participa dos vocais, e assim entram em sua melhor fase, a fase technopop, bem no estilo Human League - UltraRomantic... se tornam a versão New Romantic de Blackpool-Manchester. Então sofrem essa mudança radical, ao mesmo tempo que a Factory desiste de vez da linha Joy, pois o New Order começa a arrebentar as pistas européias, época em que entram para o Guiness Book (marca até hoje não alcançada) com Blue Monday, o doze polegadas mais vendido da história da música, o racha assoalhos dos anos 80, como a linha de seguir o principal nome da Factory continua, quando o próprio New Order, após o Movement resolve abandonar o estilo chinfrim e lerdo e entrar no rítmo eletrônico que dominou a europa dos anos 80, o technopop, a banda segue os mesmos passos abandonando aquela música quase insonsa dos primeiros álbuns para entrar na sua evolução final, atingindo seu auge com seu terceiro álbum. Antes do álbum já lançam um single bem melhor Beating Heart / Back to Wonder, co-produzido mais uma vez por Summer. Em dezembro começam uma turnê italiana que atinge grande sucesso, em fevereiro um show no Hacienda convenceu a banda a preparar um novo material, para ficar mais próximo da realidade dos fãs de música boa, que só queriam bandas eletrônicas, e ao perceberem que estavam completamente ultrapassados, resolvem se dedicar a fazer o melhor álbum de suas vidas.
Summer então assume mais uma vez a produção, finalmente o Section entra na década do technopop um pouco atrasado, é verdade, mas entra com uma qualidade inquestionável. Então começam a fazer shows em Dezembro. E finalmente em março o álbum From the Hip chega às lojas. Larry resume seu sentimento sobre o álbum "Você não pode permanecer punk pro resto da sua vida", e com certeza ainda bem que as pessoas evoluem!!!. Fizeram seu melhor trabalho e com certeza um dos melhores álbuns de toda a década de 80. A maravilha Program for Light, uma música ultra-eletrônica bem na linha do melhor do Kraftwerk, é desse álbum e por si só já o recado do novo estilo da banda. Claro que desta vez estouram na mídia. Looking from a Hilltop, deixa dezenas de seguidores, vide as produções da 4AD anos mais tarde, quer dizer no vocal, pois nos eletrônicos nem Cocteau (embora imitasse o rítmo vocal do Section), nem outros 4ADianos conseguiram copiar. Mas o destaque maior do álbum é uma das melhores músicas eletrônicas da década, que segundo nosso amigo Marcos Scomparim da Rádio Serrana é a música mais linda de todos os tempos, não sem razão. Inspiration, vira hino das casas inglesas logo nas primeiras semanas do lançamento do álbum, o semanário New Musical Express definiria assim "milagrosa reversão do que seria uma longa e irreversível escorregada para o esquecimento. Finalmente reconhecem a falta de nexo de sua tarefa assumida (de substituir o Joy para a Factory), desistiram de empurrar seu rock Sísifo anterior". A evolução do Section realmente é milagrosa, passam do caminho ao esquecimento ao auge das bandas de technopop inglês. Inspiration abala o mundo semanas mais tarde, tornando-se inclusive seu maior hit em terra brasilis em casas como Madame Satã, Cais e Woodstock entre outras, anos atrás ainda era hit no Arkham Asylum, A Lôca, Torre, Thorns em São Paulo e, até hoje enche a pista no Autobahn. Numa composição perfeita com rítmos eletrônicos de primeira, vocais ultra-melancólicos e ultra-romantics (lembrando a segunda geração romântica do século passado), uma sonoridade que beira a perfeição, Inspiration é simplesmente a mais bela canção da banda, a dialética da conversa entre Larry e sua esposa Jenny na música apaixona gerações, as paradas no meio da música (característica do technopop da época), são precisas, onde destacam-se os synthesizers, esses com uma sonoridade mais incrível ainda em uma dessas paradas, em que apenas se ouve a sequência sintetizada. Sintetizando, esse é o melhor álbum da banda (inclusive existe, "in"felizmente uma cópia pirata nacional para esse álbum). Já nesse ano 8 gravadoras relançam o álbum em todo o mundo.
A partir de Maio começa uma turnê pela Inglaterra, e mais uma tour italiana em dezembro. Gravam também uma sessão na BBC, com Warhead, Looking from a Hilltop e Reflection (outra marvilha inconteste do álbum). Então Bernard Summer e Donald Johnson baterista do ACR, resolvem colaborar no remix de Looking from a Hilltop, e fazem um dos melhores 12" dos anos 80. Ultra-ultra-ultra eletrônico, com sequências eletrônicas impecáveis, sonoridade beirando o extâse dos fãs eletrônicos de todo o mundo (curiosidade, uma vez rolei no Autobahn essa versão, e depois de dançarem delirando, os fãs de EBM vieram me perguntar o que estava rolando e ficaram completamente surpresos ao ver que era Section). Sem dúvida um dos ícones do início da música eletrônica dos 80, e como o Kraft continuam atuais, mesmo mais de 14 anos depois. Looking ... alcança sucesso nos estados unidos. Em Chicago não para de rolar Section pelas rádios, nas casas de Nova Iorque a dominação se inicia. Atravessam os eua entre janeiro e fevereiro de 85, em mais de 20 shows (Chicago, Los Angeles, São Francisco e até no Ritz em NY). Continuam os shows do auge da banda, em março shows em Paris, onde começam a estourar de sucesso. Dirty Disco é relançado em uma versão eletrônica em abril, com 2 novas músicas Crazy Wisdom e Guitar Waltz. Em novembro Vin Cassidy resolve deixar a banda, e é exatamente onde começa a decadência do Section. Consequentemente Lee Shallcross e Angela Cassidy desistem da Seção 25. A última aparição da banda completa foi no Preston Guildhall ao lado do New Order, onde a banda surpreende o público com um cover da maravilhosa e imbatível The Model do Kraftwerk.
Embora abalados pela fragmentação do grupo, Jenny e Larry decidiram levar sozinhos, e gradualmente foram compondo novas músicas e finalmente no verão de 86, gravam Love and Hate (que se chamaria Sprinking Petals Into Hell, até dias antes do lançamento), infelizmente não conseguiram, alcançar a qualidade dos álbuns anteriores, mesmo com muito esforço, ficou até que bom, mas não se compara à "inspiração" que contavam no álbum anterior. Alguns músicos foram "emprestados" pela Factory para cobrir as baixas. Mas ao terminar, a própria Factory segurou o álbum por quase um ano, pelo jeito nem eles tinham aprovado muito, embora tivesse composições de grande desempenho da banda. Bom, mas mr. Summer não deixou in oblivion como a Factory o fez, e simplesmente resolveu remixar com a banda a música Bad News Week em um single em maio de 87. A Factory inventou uma desculpa que a música parecia um plágio de Jonathan King com Good News Week, mas ninguém reclamou, e nem acharam o mesmo por aí afora, engraçado, o New Order dessa vez seria processado 2 anos mais tarde por John Denver acusando de chupar sua música Leaving on a Jet Plane na música Run, e a Factory nem pensou em segurar o álbum do New Order.... Mas depois de um ano segurando finalmente Love and Hate chega ao mercado, mas só resistiram até essa época apenas os mesmos 2 membros, e a divulgação do álbum teve apenas um show em Blackpool. Infelizmente o álbum não bem aceito pelo público e crítica. Então a banda já caminhava para o fim, como diria o New Order em Thieves Like Us - "When it dies, it dies for good", para o bem da banda ali deveria ser determinado seu término, e assim o foi, precisamente no momento certo. Embora não seria uma surpresa e nem desagradável se de repente eles aparececem com algo novo.. pois com certeza pelo que conhecemos essa banda ela nunca se entrega, não se entregou ao desejo da factory de fazer um novo Joy Division, pois depois do primeiro ganharam mais independência e mostraram que seu caminho era a eletrônica, não se entregariam hoje ao nojo Techno, nem à bosta Grunge... com certeza seria o mesmo Section amável de uma década atrás...
Marcos Vicente
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