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O New Romantic dá seus primeiros passos na Europa. Na Inglaterra, Gary Numan, Human League e Ultravox começam a assimilar mais e mais a música dos fabulosos alemães da estação de Força - Kraftwerk. Essa assimilação da sonoridade do Kraftwerk só foi possível graças à chegada da música The Model ao topo da parada britânica, pela primeira vez na história uma banda alemã atingia o topo da parada inglesa. A partir de então a história da música na Inglaterra mudou para sempre. Nasce o technopop inglês, e misturado com essa cara New Romantic. Então nascem as primeiras bandas de technopop New Romantic da Inglaterra, a primeira delas e pai do Technopop inglês Ultravox, Human League (pode ser chamado de mãe...), Tubeway Army, e então surge um bando de gaivotas no meio da história. Mais precisamente em 79, ano em que Martin Ware e Ian Marsh, deixam o Human League para formar o Heaven 17, e o Technopop casa de vez com o New Romantic, um dos percursores desse casamento ao lado do Visage é o A Flock of Seagulls. O cabeleireiro Mike Score e seu irmão Ali Score se juntam a outro cabeleireiro Frank Maudeley e formam a banda que iria ser um dos ícones do New Romantic dos 80. Mike assume os vocais e teclados, Ali que já tocava bateria começa a experimentar também as eletrônicas e Frank usa um baixo inesquecível para dar aquele toque NR da banda. Mais tarde Paul Reynolds se junta à banda. Pronto a sonoridade da banda está pronta, a influência Kraftwerkiana dá o tom synth da banda, a influência de Bowie e Ferry dá o glamour, e os baixos dançantes do Ultravox completam a influência da banda. Inclusive pode-se dizer que a banda é a continuação de The Model, assim como acontece com o Visage. Glamour, romantismo, elegância, música eletrônica tocada com classe, videoclips inesquecíveis eis um bando de gaivotas. O nome como não podia deixar de ser vem da literatura... o famoso Fernão Capelo Gaivota, ou no original em inlgês Jonathon Livingston Seagull de Richard Bach.
Com a banda formada, em 1981 lançam seu primeiro EP, pelo selo independente Cocteau Records, mesmo não atingindo a parada britânica, a música Telecommnication se tornou um hit alternativo no underground europeu, e foi esse sucesso no underground da New Wave, que garantiu a banda a enorme quantidade de fãs que a seguia pra onde ela ia. Com isso conseguiram um contrato com a famosa Jive ainda em 81. Então lançam o álbum de estréia com o mesmo nome da banda. E logo o primeiro single do álbum atinge já um sucesso fenomenal - I Ran (So Far Away), a MTV começa a passar o clip várias vezes por dia, chovem telefonemas na emissora de New Romantics looking for the TV sound, pedindo I Ran. Aliás um ótimo videoclip (característica do New Romantic), com uma cara bem robótica, um baixo tocado roboticamente, no melhor estilo Kraft-Numan, os cabelos em forma de cascata já começam a chamar pela peculiaridade, as roupas elegantes e vermelhas denunciam a influência de The Model e do Gary Numan, ainda uma sala de espelhos (que nos lembra alguma coisa, não?), e um visual fúlgido e andrógino (mais uma vez típico dos NRs.), com o olhos no melhor estilo Blade Runner, demonstram a marca de uma geração preocupada com os sentimentos acima de tudo, com a empatia, as músicas cantadas com emoção. Extremamente emotivos se tornom um ícone do começo da década. Atingem as primeiras posições em charts de toda a Europa. Mas eles vão mais longe, e finalmente o New Romantic chega à parada americana, I Ran entra no top ten americano, carregando o álbum também para a mesma parada. Mas na Inglaterra I Ran não passou do top 40, foi no álbum seguinte apenas que atingiram o top ten com Wishing. Desse álbum ainda pululam músicas maravilhosas já demonstrando a temática principal da banda amor x tecnologia. Futurismo e androginia se misturam em canções cativantes e suaves, ultra-românticas, a belíssima canção de amor da era espacial Space Age Love Song, algo incrível que preparava o futuro das relações amorosas do mundo... A tecnologia e o romantismo byroniano de braços dados. O futuro - internet - computadores - amores via rede... e tudo que só os poderia prever. Se antecipando na história esse álbum é a característica dos anos 80 Neo-romantismo, ciência, música, melancolia, morbidez, tristeza assimilando assim o que viria a ser o tema dos 80. Aliás anos mais tarde vemos que eles tinham razão, primeiro com Blade Runner o filme que mistura tudo isso e é uma marca dos fãs dos anos 80, depois com Garota de Rosa Shocking e Electric Dreams onde as relações amorosas, e o caonquistas pelo computador são mais claros, e claro, nos dias de hoje a prova que tudo aquilo era possível... ou o que podemos dizer da internet? Amores eletrônicos. I Ran é uma das músicas mais marcantes desse bando de gaivotas. Mas não param por aí, ainda nesse álbum encontramos uma alusão à perda do amor nas gerações dos 60 e 70, das esquerdas festivas, da falta de envolvimento nos relacionamentos desses tempos... falta de feeling, em Modern Love is Automatic, outra grande lovesong. Aliás com esse álbum e seu segundo álbum, inauguram o que muitas bandas etéreas e góticas iriam anos à frente influenciados pelos climas sombrios que a eletrônica podia nos dar, baseados no A Flock of Seagulls, daí nasceram aqueles climas sombrios do etéreos do fim da década, e dos góticos mais tristes do começo da mesmo. É só ouvir A Flock e ver o quanto estavam à frente dessas bandas góticas, totalmente futuristas, e aquele futurismo pessimista, bem Blade Runner.
Mas o melhor do A Flock ainda estava por vir. Em seu segundo álbum eles esbanjam criatividade e competência para fazer boas músicas com rítimos eletrônicos e ainda com ultra-romantismo: Listen. Uma capa que mais parece o lado pessoal do PC (computador não o nosso Farias daqui), uma imagem meio distorcida de um rosto roseado sobre um fundo de circuitos eletrônicos, aliás uma das melhores capas que vi, pelo menos uma das que mais demonstra o conteúdo pela própria capa assim como o The Golden Age of Wireless do Thomas Dolby, na mesma linha de capa. Aliás nunca houve, e não há quem conteste, uma década praa capas tão bem feitas como a dos 80. Listen é assim, mais uma vez o computador misturado com o pessoal, trocadilho ou não, é isso que o AFOS desenvolve nesse álbum que aliás é seu melhor trabalho. Não é o modo com que tocam, não é o modo como se vestem, é algo mais, não é o modo com que cantam, não são as letras que cantam, embora tenha uma parte disso, não é o modo como trabalham as capas, não é modo como compõe, é tudo que é perfeito nessa banda maravilhosa, ah se eu tivesse uma banda dessas... . Exatamente sua melhor música é isso, uma declaração de amor mais incrível que já vi na vida... juro. Nem Byron, nem Cure, nem Depeche Mode ousaram ir tão longe numa melancolia ultra-romântica. Platão ficaria admirado! Faria Byron se suicidar, é de causar inveja a Goethe, sem dúvida uma das melhores músicas já feitas até hoje, e talvez a melhor letra de todos os tempos. Wishing, se Werther é uma linda história de amor e morbidez, se Romeu e Julieta é a história mais famosa, se See You do Depeche é um extremo romantismo de apenas querer ver seu amor, se Pictures of You do Cure, vai além com saudades da foto que rasgou, o A Flock of Seagulls vai mais longe e sonha em ter a foto que nunca viu. Passa a vida inteira desejando. E o video-clip então, é um dos melhores dos 80 também, exatamente com essa temática (isso em 81, hein?), ele fica horas em frente ao micro tentando em softwares de desenho reproduzir a foto da amada, que só fica em seus sonhos, aí imprime uma atrás da outra, rasgando e tentando refazer, pois ainda não se parece com esse amor, mas não desiste e vai até o final do clip tentando essa foto que sem ela, passará a vida inteira apenas desejando. Essa música, letra e clip são um sonho, algo incrível, que só o AFOS poderia fazer. A cada dia sua música fica mais synth, a era da eletrônica na música inglesa. E a banda continua estourando na MTV, claro lá na Europa, pois por aqui o New Romantic só existiu nas casas alternativas. Depois desse sonho, as gaivotas entram num pesadelo interminável, a falta de amor de nossos tempos, e chamam a mãe desesperamente à procura de carinho, escasso em nossa sociedade. Nightmares. Mas eles mesmo não acham as respostas para resolver esses problemas da falta de empatia testadas na Voight-Kampff. What Am I Supposed to Do? Outra vez o jeito do sorriso é primordial, a busca daquele momento que parece nunca ser suficiente. Maravilhoso, mas a surpresa ainda está por vir, quando todos ouviam as propagandas dos cigarros Califórnia aqui no Brasil, não imaginavam que ali naqueles acordes de fundo da voz "Fume cigarros Califórina..." estava uma das melhores bandas new-romantics, com outra bela love-trip-sound, Transfer Affection, mais uma vez com uma letra imbatível. Mais que isso, nos traz automaticamente a recordação de outra música da nossa infância aquela da propaganda do Starsax, dos pais do technopop The Hall of Mirrors, a música que mudou nossas vidas, de mero telespectadores à admiradores de boa música. Carregada de romantismo a música transfere uma afeição inigualável. Infelizmente, ou para nós felizmente essas músicas não atingiram o grande público americano, e ficaram pros porões alternativos de SP da época. Mas ganharam um contrato milionário com uma gravadora bem maior e que poderia divulgar bem mais seus trabalhos, a Jive Records. Mas sem dúvida, Listen é seu melhor trabalho. o Auge da banda, é de onde inclusive saíram os maiores sucessos da pista do Harry, espaço inesquecível na cabeça dos ex-frequentadores da noite paulistana dos 80. Além de Wishing, que rolava toda semana com o público gritando, isso mesmo gritando, nem era cantando, era gritando mesmo, delirando, o outro hit era Electrics, bem a cara do Harry, electrics everywhere, os technopopers e ebmers se matavam de prazer na pista. Mas uma das melhores songs do álbum é bem diferente da linha eletrônica, The Fall, uma aproximação muito grande do que o New Order fez em Movement, a primeira vez que se ouvia não se sabia se era Joy Division ou New Order, e era o A Flock, linda, extremamente depressiva, mórbida e decadente, suicida, maravilhosa enfim. Além dos sons de explosões de gás do álbum em 2:30. Viajando pela eletrônica com The Traveller e Over the Border completam essa obra-prima do New Romantic. Enfim, o melhor álbum da banda. Neste mesmo ano vencem o Grammy awards por melhor instrumental na música D.N.A. do primeiro álbum. Essas bandas New Romantics dão os primeiros passos na linha Blade Runner, misturando engenheira elétrica e genética, como acontece simultaneamente com Soft Cell e OMD, e anos mais tarde com Front Line Assembly e Klinik.
Nessa época ainda lançam o single mais maravilhoso de todos os tempos, Wishing, com 3 músicas inéditas, aliás é assim que inventam a Electronic Body Music, pelo menos são os primeiros a por em vinil, com suas idéias socialistas (características das bandas de EBM anos mais tarde), descrevem o vôo de Yuri Gargarin, demonstrando uma preferência na corrida espacial, em uma música que depois foi chupada pelo Front 242, Neon Judgement e até Klinik. Vale a pena comprar esse single, um marco inclusive para a EBM. Algo tipo Minimal Man a banda israelense de EBM-Ethereal e tudo que surgiu depois. Claro além da versão de mais de 9 minutos de Wishing.
A banda entra em decadência e quase acaba em 84, mas por esforços de Mike se reagrupam e gravam The Story of A Young Heart, bem a cara dos new romantics, pelo menos no nome do álbum. Desse álbum a única boa canção é a inesquecível The More You Live The More You Love, aliás uma verdade inconteste, letra que influencia anos mais tarde o When in Rome e sua The Promise. O álbum não atinge grande sucesso e seus singles nem permeiam a parada britânica, começa assim o crash da banda, Reynolds deixa o bando, quer dizer a banda, e em seu lugar entra Gary Steadnin. Também entram mais teclados e sintetizadores com a chegada de Chris Chryssaphis, ás nos eletrônicos. Seguem-se alguns shows com a nova formação por toda a Europa até fins de 85, quando resolvem voltar ao estúdio para um novo trabalho.
Em 86, o pesadelo se torna real a banda despenca, e perde sua sonoridade clássica dos NR, acompanhada da morte do New Romantic, a banda entra em seu leito de morte com Dream Come True, the last album. Esse então nem beira os ouvidos londrinos. A banda então se separa.
Mas Mike não desiste e em 89 lançam o single Magic
e fazem uma tour pelos estados americanos. Dessa vez Mike se conforma com a
falta de empatia dos fãs, e aceite tristemente o fim da banda no final do ano. It's not
me talking... e se calam.., há rumores que ele mesmo voltou a tocar e tenta reagrupar o A
Flock nesse boom que arrasa a Europa e principalmente a Inglaterra e Suécia dos New
Romantics e a volta dos anos 80, mas são só rumores...
Who's that band? E assim o A Flock deixa milhões de
fãs em todo o mundo, e centenas de New Romantics nostálgicos e xenófobos (como eu) em
todo o mundo. E Mike deixa finalmente as gaivotas voarem para a liberdade...
Em 94 temos a coletânea com seus melhores trabalhos The Best of A Flock of Seagulls que até saiu no Brasil (pasmem!), incluindo 2 bônus tracks versões 12" de singles, maravilhosas.
Bandas relacionadas: Kraftwerk, Yello, Visage, Classix Nouveaux, Ultravox, China Crisis, Human League, ABC, Heaven 17, Bryan Ferry, OMD, Adam and the Ants, David Bowie, Naked Eyes, Peter Schilling, Modern English, Soft Cell, Gary Numan, e Spandau Ballet.
Influenciou nos 90: Avant Garde e Elegant Machinery.