O The Alan Parsons Project, ou APP para
os íntimos, foi um grupo diferente de todos pelo fato que o artista
cujo nome aparece no nome do grupo não é o vocalista e
muito menos o guitarrista, mas sim o produtor musical. Caracterizou-se
por ser uma banda de estúdio, com músicas de letras densas,
arranjos muito bem feitos, com toques orquestrais, resultando num trabalho
de alta qualidade, numa linha musical parecida com a do Supertramp,
fazendo uma espécie de pop progressivo. Todos os trabalhos do
Project foram conceituais, isto é, há um grande tema regendo
as composições do grupo. Outra característica marcante
do APP foi a presença de vários vocalistas, o que realmente
tornou-se uma das marcas registradas, não deixando o ouvinte
enjoado de ouvir a mesma voz por 40 minutos seguidos (na época
do LP). Só para ter idéia, passaram pelo grupo mais de
30 vocalistas, desde nomes desconhecidos até artistas mais conhecidos
como John Miles (do hit do 70´s Music), Gary
Brooker (Procum Harum), entre outros.
Tudo começou em 74, quando o produtor/engenheiro de som
Alan Parsons conheceu o compositor Eric Woolfson no famoso
Abbey Road Studios (o mesmo onde os Beatles
gravavam). Naquela época, Parsons estava fazendo muito sucesso
com o hits que produziu, mas precisava de um empresário para
assesorar sua carreira. Em 75, Eric apresentou ao Alan seu projeto de
fazer um álbum conceitual, baseado em contos do escritor americano
Edgar Allan Poe, o que acabou se transformando no Tales
Of Mystery And Imagination, o primeiro disco do Alan Parsons
Project, lançado em 1976. Ao longo do tempo, o que era no
início um parceria de empresário/artista (neste caso,
produtor), acabou se tornando uma parceria criativa. O nome do grupo
surgiu de última hora, quando Alan e Eric foram assinar o contrato
com a gravadora, e sugeriram Various Artists (vários artistas),
mas foi recusado, devido ao fato de ser um nome sem identidade. Como
Alan Parsons estava no controle do projeto, daí veio The Alan
Parsons Project, nome que inicialmente não tinha cara de ser
nome de banda, mas pegou até Gaudi, último álbum
do grupo.
Quem são Alan Parsons e Eric Woolfson, os idealizadores do APP?
Alan Parsons:
o produtor e engenheiro de som do grupo, responsável principalmente
pelos instrumentais do grupo, que quase nunca canta em seus álbuns,
com exceção de Tales of Mystery and Imagination,
de 1976, utilizando um vocoder na faixa The Raven. De vez em
quando, aparece tocando teclados (incluindo efeitos especiais nas músicas,
Fairlight e Projectron - instrumentos precursores dos atuais samplers).
Antes do APP, já era bem conhecido como produtor, destacando
seu trabalho com Pilot (leia-se "Magic" e "Canada"), John
Miles ("Music"), Al "Year of The Cat" Stweart,
Cockney Rebel, entre outros.
Também participou de álbuns clássicos como Abbey
Road e Let it Be dos Beatles (como assistente do engenheiro
de som) e do famoso Dark Side of The Moon do Pink Floyd, desta vez como
o engenheiro de som. Só pra ter uma idéia, foi justo este
álbum que o tornou conhecido, devido suas contribuições
ao álbum, como os relógios de Time, por exemplo.
Eric Woolfson:
Responsável pela maioria das músicas e conceitos dos álbuns,
este escocês de Glasgow antes do APP, trabalhou com o ex-empresário
dos Rolling Stones, compôs músicas para outros artistas
e tb foi empresário. Foi nesse lance de empresariar artistas
que conheceu Alan, tornando-se seu empresário, e depois, parceiro
no APP. Além isso, foi seu vocal que marcou um dos períodos
do grupo (no ínicio dos 80), nos hits Time (tema da novela
“Baila Comigo” da Rede Globo – abriu as portas para
o grupo no Brasil), Eye in The Sky e Prime Time.
Um pouco sobre os trabalhos do Alan Parsons Project,
conceitos trabalhados, e hits:
Tales of Mystery and Imagination (1976):
Baseado nos poemas de Edgar Allan Poe, foi o primeiro álbum do
grupo, que trouxe inovações, enriquecendo o mundo da música,
sendo o primeiro "Producer´s álbum" (álbum do produtor
musical), destacando-se as faixas "The Raven" (com o vocoder do Alan
Parsons) e " (The System Of) Dr. Tarr and Prof. Feather".
I Robot (1977): Com o mesmo título do livro de Issac
Asimov, este disco fala da relação homem-robô, numa
visão diferente da idéia do livro. Os destaques ficam
para "I Robot", " I Wouldn´t Want To Be Like You", "Breakdown"
e "The Voice".
Pyramid (1978): O tema deste disco foi sugerido pelo Alan Parsons,
sendo a primeira e única vez que isso aconteceu na história
do APP. Pirâmides, o seu mistério, legado, crenças
e histórias estão presentes nas faixas, como "What Goes
Up", "The Eagle Will Rise Again", "Can´t Take it With You", a
engraçada "Pyramania" e o super instrumental "Hyper-Gamma Spaces".
Eve (1979): Mulheres, suas qualidades e defeitos são
a base conceitual deste trabalho, como pode ser observado em "Winding
Me Up" e"Damned If I Do". Destaca-se também o instrumental “Lucifer”,
que foi muito utilizado em trilhas de comerciais na TV por aqui.
The Turn Of A Friendly Card (1980): Os jogos de cartas, cassinos
e apostas são relatadas em formas de música como os hits
"Games People Play" e "Time" (a responsável pelo sucesso do Project
no Brasil), além de "Snake Eyes" e "The Gold Bug".
Eye in the Sky (1982): O disco mais bem sucedido do Project
em termos de hits como a faixa-título, "Old and Wise", "Psychobabble",
além dos instrumentais "Sirius" (tema do Chicago Bulls) e "Mammagamma".
O conceito do disco remete ao efeito “Big Brother” do livro
“1984” de George Orwell.
Ammonia Avenue (1984):
O título deste trabalho é baseado numa rua onde está
localizada a fábrica petroquimíca da ICI na cidade de
Middlesbrough (Inglaterra). Destacam-se as músicas "Prime Time", "Don´t
Answer Me" (cujo clipe animado concorreu numa das categorias no primeiro
Vídeo Music Awards da MTV, perdendo para o clássico “Take
on Me” do A-ha), e "You Don´t Believe".
Vulture Culture (1984): As músicas neste disco mostram
muito da vida nos anos 80, nessa sociedade às vezes cruel com
as pessoas, retratadas em faixas como "Let´s Talk About Me" e
"Days Are Numbers (The Traveller)”.
Stereotomy (1986): O título do disco extraído
do conto "Os Assassinos da Rua Morgue" de Edgar Allan Poe. A faixa-título,
juntamente com "Limelight"e o instrumental "Where´s The Walrus?"
(que era a música usada na abertura/encerramento do Programa
de Domingo da extinta Rede Manchete) merecem atenção.
Gaudi (1987): Nem precisa falar que o arquiteto catalão
Antonio Gaudí foi a inspiração deste trabalho,
destacando-se a belissíma "La Sagrada Familia" e o hit "Standing
On Higher Ground".
Freudiana (1990):Após "Gaudi", Alan e Eric começaram
a trabalhar num novo álbum, baseado na vida e obra de Freud.
Com a entrada de um ex-sócio de Sir Andrew L. Webber (leia-se
o "Fantasma da Ópera" e "Cats"), Eric interessou-se por transformar
o projeto em um musical, que nem os da Broadway. Só que o Alan
não se interessou muito pela idéia, e acabou por só
produzir e fazer a engenharia de som, além de compor um dos instrumentais
do disco que foi lançado junto com o musical. Foi justamente
este trabalho que fez que Eric Woolfson deixar o APP em 92 para se dedicar
nesta área, enquanto Alan optou por continuar com o que vinha
fazendo no APP, numa “carreira solo”, sem contar que na
capa não trás escrito nada referente ao nome The Alan
Parsons Project (com exceção de selos colados indicando).
O que aconteceu com Alan Parsons e Eric Woolfson após o fim
do grupo?
Quanto ao Alan, ele partiu para uma “carreira solo”, contando
com a participação de alguns dos músicos de apoio
do Project, no qual lançou 4 discos de inéditas, mantendo
a fórmula consagrada do APP adaptada para os tempos atuais: Try
Anything Once (1993), On Air (1996 – com participação
de Christopher Cross, do hit “Sailing”), The Time Machine (1999
– que contou com Tony Hadley do Spandau Ballet como vocalista
convidado), e A Valid Path (2004 - na linha de música eletrônica). O
fim do APP possibilitou aos fãs do grupo algo que jamais eles
tinham imaginado, que foi ter a oportunidade de ver ao vivo as músicas
do grupo, quando Alan Parsons se sentiu confiante quanto a tecnologia
e também pessoalmente, e resolveu cair na estrada a partir de
1994, juntamente com a base dos músicos de apoio do Project,
marcando uma nova fase na sua carreira, sendo este momento histórico
registrado na coletânea gravado ao vivo dos maiores hits do APP
chamada The Very Best Live (1994). E para ajudar na promoção
dos shows, por mais que os discos saiam apenas como o nome Alan Parsons, utiliza-se
o nome Alan Parsons Live Project para facilitar a identificação
dos fãs. E os fãs brasileiros já tiveram a chance
de conferir o Alan e sua banda ao vivo em 3 ocasiões (1995, 1997
e uma participação no evento British Rock Symphony, junto
com Tony Hadley em 2000)
Já Eric Woolfson, após o disco Freudiana, decidiu aventurar-se
no ramo dos musicais, sendo que até hoje já produziu dois, "Gaudi" (baseado
no álbum de mesmo nome do próprio APP) e "Gambler" (baseado
no "The Turn Of A Friendly Card" e "Eye In The Sky'', tb do APP), que
fizeram temporada na Alemanha. Em 2003 lançou mais um disco na
linha de musicais, intitulado “Poe – More Tales of Mystery
and Imagination”, que é uma continuação do
primeiro disco do Alan Parsons Project.
Alan Parsons e a trilha sonora do filme O
Feitiço de Áquila:
Um dos clássicos filmes dos anos 80 teve o envolvimento do Alan
Parsons e alguns dos músicos que tocavam no Project. Durante
as gravações do disco Vulture
Culture, um deles, Andrew Powell (responsável
no Project por conduzir a orquestra e fazer os arranjos para ela), foi
convidado pelo diretor Richard Donner para compor a trilha para
o seu novo filme, visto que ele tinha gostado do trabalho de Andrew
para o Project, assim como o do Project como um todo. Segundo o que
o próprio Andrew Powell comenta sobre a trilha, o que Richard
Donner queria era o estilão que consagrou o APP, com a mistura
rock/temas orquestrados. O que nota-se na trilha é que temos
bem essa mistura, saindo de um padrão convencional de trilha
sonora, calcada apenas no aspecto orquestral, num resultado interessante
e que acabou dando um charme para o filme. Na hora da produção,
Andrew chamou Alan Parsons, visto que a parceria era bem sucedida neste
aspecto, e assim como foi um desafio para Andrew, para Alan foi igualmente
desafiador, visto que é uma outra maneira de trabalhar, visto
que há uma preocupação com a sincronia da música/cenas
do filme.
Links úteis:
Alan Parsons: www. alanparsonsmusic. com
Eric Woolfson: www. poe-cd. com
The Avenue: www.theavenueonline.info - fã-clube do Alan Parsons (Project)
Tatiana Porto (aka Oldfield)
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