Biquini Cavadão - A Era da incerteza

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Ida e volta
¡ Tormenta !
Inocências
Dança tonta
Catedral
Um Corpo sem alma
Tambores de Marvaro
Limites
Duas
Pequena peça

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Não esperava ser o único a romper a barreira do som
Superei o medo da distorção das palavras
Fui sincero, muito cedo ...

Tem horas em que lembro com saudade
todo o tempo de minha vida
E perplexo vejo que já um quarto dela
Se passou em felicidade desapercebida

Se o tempo hoje parasse
Ou então não mais vivesse
Estaria me traindo
Ao pensar que o tempo pararia
Se meu coração não mais batesse

Anotei inutilmente experiências num caderno
Por temer tornar a repeti-las
E descobri que o amor precisava de estratégia
E eu não sabia como se perdia

Tem horas em que lembro com saudade
todo o tempo de minha vida
E perplexo vejo que já um quarto dela
Se passou em felicidade desapercebida

Agora basta de besteira
Cansado de me procurar, achei que devia me perder
E não notei que fiz de todo o tempo uma tragédia
A minha vida, eu não conhecia

E se pensava que o jovem não tem medo da morte
Eu noto só agora que a sorte se inverte,
Ou então estou mais velho...

Ida e volta

Não sei mais o que fazer
A noite acabou
As luzes já vão acender
E com elas, solidão

A vida aqui nesta cidade é buscar a diversão
Nos bares vendem mil venenos
E as pessoas estão fantasiadas

E eu não sei se o que vivi foi ilusão
Ou teve mesmo importância
Acho que não me deram atenção
Não me deram atenção, não !

Volto pra casa
Sentindo frio
Sem saber se hoje
Choro ou sorrio
Amanhã, quando acordar, eu decido.

Mas a vida ainda me pertence
Embora todos possam ir embora
Ainda que estejas na vinda e eu na volta.

¡ Tormenta !

A vida nesse mundo é tão material
Que sua presença parece irreal
No meu oceano, ela se dá por um farol
Que ilumina os meus passos e me dá calor Calor de gente
Calor de animal
Nessa tormenta não sou racional
Sou menos humano
Sou mais perigoso
A própria imagem desse sentimento em carne e osso Vou ao seu encontro movido a ilusão
Mas minhas andanças não tem direção
Pois não adianta, um navio em alto mar
Que sabe aonde ir, sem saber aonde está A vida nesse mundo é tão material
que sua presença parece ilusão
Ela é bem mais rica que uma posse pessoal
E por ser tão rica só pertence ao coração Coração de gente
Calor de animal
Nessa tormenta não sou racional
Sou menos humano
Sou mais perigoso
A própria imagem desse sentimento em carne e osso.

Inocências

Eu trago em mim recordações
Que não sei se são troféus ou fardos
Pois estão somente estampados na memória
Mas quem vai saber ?
São só velhas coisas ditas e sabidas
Por todos ou ninguém
Lembranças perdidas sem sentido
Mas juntas pra mim parecem música

Nessa estrada já fui pra todo lado
Tive quase tudo e, por ser quase, tive nada
Rodando na ciranda que separa o joio e o trigo
Eu vou dançando
Vou lembrando do primeiro prazer de se estar vivo
Inocências da primária vida
Na ciranda da primeira vida

Eu trago em mim momentos
Que não sei dizer se são fortes ou fracos
Dúvidas que dançam soltas na ciranda
Mesmo que eu insista em ir pra dança
No fim são só velhas coisas
Ditas e vividas
Por todos ou ninguém
Lembranças perdidas sem sentido
Mas juntas pra mim parecem música

Que a razão não diga nada
Os sonhos sempre foram minha fuga
Lembranças perdidas sem sentido
Mas juntas pra mim parecem música

Nessa estrada já fui pra todo lado
Tive quase tudo e ao longo da ciranda
Das inocências sou lembrança
Sou lembrança da primeira vida.

Dança tonta

Não quis passar a minha mágoa
Embora não pudesse evitar
Buquê de vinho, mas gosto de água
Nó na minha garganta
Que as horas não conseguem desatar

Não foi presciso consolo
Pois me senti tão tolo depois de chorar
Gosto de nada na boca
Somente a raiva que sentia me faria mastigar

E por mais que eu fique tonto, o mundo insiste em balançar
Por dar corda nos meus sonhos, mal pude acordar
Por um momento te amei tanto
Momento de tormento
Mas agora nada tento
Por enquanto espanto em achar
Um ponto de beleza nessa irônica era de incerteza

E por mais que me doa a decisão de saber o que sinto,
Minto
Finjo a cada sol que não vejo nascer nem se pôr
Me oponho a crer que os dias tem passado
Mais rápido que o esperado
E quantas vezes dormi do seu lado
ou me esqueci do seu rosto
Mas meu desejo não era a sua vontade
E a mão que me afagava é a mesma que me afoga

Catedral

A igreja é ao mesmo tempo mãe e filha
Mas até hoje ninguém sabe quem é o pai
Catedral, isto aqui não é seu céu
Deuses não são maiores dentro de você

Em nome de um santo,
Um santo sem nome
Um monumento ao templo
Grande colosso
Que até me esqueço que seria tão bonito
Se fosse dito que cada cidadão,
Religioso em devoção
Tivesse em sua crença natal
A riqueza não material
Materializada em casa
E não em uma catedral

Catedral, a capela se humilha
A igreja é mãe e filha e ninguém sabe quem é o pai

Aos Deuses, o primor da arquitetura:
Paredes de ouro, metais em lingotes
E sumos sacerdotes,
Em sinal dos tempos,
Conservam seus templos,
Atraindo, aliciando,
Mas não quebrando o encanto
Daqueles que até hoje vivem
Rezando para terem um dia
A falsa sorte prometida
Pelos senhores dessas catedrais

Um Corpo sem alma

Não é medo o que sinto agora
Nem solidão...
É uma calma de quem vai embora
Sem levar recordação

Não vejo perigo
Nem desvantagem
Não sinto remorso
Ou alegria
Estou livre de tudo que me abraça
Depois de hoje vem muitos dias

Como seria bom sentir isso sempre
No entanto é apenas um momento raro
Que passa como um pensamento
No coração que o compraria caro

Toda vida tem uma história
Cada segundo uma razão
Mas na folha do que vivo agora
Não escrevo explicação
Eu simplesmente não penso em nada
Nem cogito qualquer vitória
Meu corpo esta morto de linguagem
E a alma não procura a glória.

Tambores de Marvarro (Instrumental)

 

Limites

Se me ordenam qualquer coisa que tenha sentido
Sentido ou direção,
Penso mil vezes:
Serei eu que estou errado ?
Serei eu que estou calado ?
Ou estão querendo me matar ?

Estão querendo acabar com o que eu posso fazer
Com jurados comprados e o meretrício juiz arranjado
Por livre e espontânea pressão

Pressão, pressão
Pois se pensar sem limites
Me cassam a concessão
Temendo não chegar ao topo na primeira colocação

Se me ordenam qualquer coisa que tenha sentido
Sentido eu dizer não
Penso mil vezes mas acabo concordando
Por livre e espontânea pressão

Não adianta discordar,
O fio da tesoura diz quem tem razão
E de tanto me cortarem, eu achei meu corte cego
Tornei meu próprio verso um grito sem expressão

Como se repintar os muros calasse os pincéis
Como se queimar o que te escrevo me apagasse um pouco mais
Como se não cantar essa canção em alto brado
Me tornasse um próprio escravo
Escravo de meus limites

Duas

Elas eram duas
Imagens tão distintas
Não era por acaso
Que, ao misturar suas tintas,
O dia era de uma
E a noite tão criança
Só sei que as amava
Maestro de duas danças

As duas eu amava, nenhuma eu traía
Promessas eram feitas, mas passavam como os dias
Tentava acreditar, não era mal o que fazia
Pois eramos felizes enquanto o tempo permitia,
Em quanto tempo ....

E a paixão talvez seja antes de tudo egoísta
Ou quem sabe, a traição me pareça oportunista
Com duas dividia minhas longas, longas horas de agonia
E foi com grande dor que vi minhas juras aos meus olhos
Tornarem-se mentira
Ora mulher, ora menina
Se uma eu contemplava
A outra me fascina

Eu desejava as duas, não quis perder nenhuma
Deixei acontecer, juntei verdades e mentiras
Talvez acreditasse serem simplesmente duas
Metades de uma só
Enquanto o tempo permitia
Por quanto tempo...

Pequena Peça (Instrumental)

 


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