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Miséria |
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Índio mulato preto branco
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Miséria é miséria em qualquer canto
Filhos amigos amantes parentes
Riquezas são diferentes
Ninguém sabe falar esperanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Todos sabem usar os dentes
Riquezas são diferentes
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
A morte não causa mais espanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Riquezas são diferentes
Miséria é miséria em qualquer canto
Fracos doentes aflitos carentes
Riquezas são diferentes
O sol não causa mais espanto
Miséria é miséria em qualquer canto
Cores raças castas crenças
Riquezas são diferenças
O anão tem um carro com rodas gigantes
Dois elefantes incomodam muito mais
Só os mortos não reclamam
Os brutos também mamam
Mamãe eu quero mamar
Eu não tenho onde morar
Moro aonde não mora ninguém
Quem tem grana que dê a quem não tem
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Quem esporra sempre alcança
Com maná adubando dá
Ninguém joga dominó sozinho
É dos carecas que elas gostam mais
A soma dos catetos é o quadrado d hipotenuza
Nem tudo que se tem se usa
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Os cavalheiros sabem jogar damas
Os prisioneiros podem jogar xadrez
Só os chatos não disfarçam
Os sonhos despedaçam
A razão é sempre do freguês
Eu não tenho onde morar
Moro aonde não mora ninguém
Quem come prego sabe o cú que tem
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Raciosímio Raciosímio Raciosímio Raciosímio
Há uma questão que há muito tempo me incomoda
Qual será a vantagem de se ter uma ou duas corcovas?
O que iremos formular é somente um questionário
Qual diferença haverá entre o Dromedário e o Camelo?
E entre o Camelo e o Dromedário?
Postos frente a frente causam a mesma impressão
Mas quando postos de lado faz-se logo a correção
O Camelo difere do Dromedário que só tem uma corcova
O Dromedário já difere do Camelo por ter lá suas duas
corcovas
Há muitas coincidências entre os nossos dois ruminantes
Mas quando chamamos em ordem alfabética é o Camelo que vem sempre
antes
O Camelo está na letra C de quase todo abecedário
A ledra D por sua vez traz sempre a figura do Dromedário
Haverá mesmo uma rusga entre os dois mamíferos quadrúpedes?
Ou desavenças são propriedades apenas de nós humanos
bípedes?
Só se anda de Dromedário no deserto do Saara
Mas quem já viu aonde dorme o Camelo lá na Guanabara?
O Camelo é o Pão de Açúcar com a urca vistos em
relevo
Mas o Dromedário e o Corcovado só o Cristo é que não
pode vê-lo
Será que por ter duas corcovas o Camelo passa mais tempo sem beber
água?
Ou pelo contrário com um peso maior beba mais água que o Dromedário?
Será que o bom Dromedário com sua única corcova tem por
cima mais espaço?
E ficaria assim nosso amigo Camelo exposto a um maior cansaço?
Aquele que acertar a primeira resposta
Receberá duas corcovas em suas costas
Aquele que só acetar a segunda
Não tardará a ficar com uma enorme corcunda
Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
Palavra eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
em caso de emergência
Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas
Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo
Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito
Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol
Precisa perder o medo do sexo
Precisa perder o medo da morte
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da ciência
Precisa perder o medo da perda
Da consciência
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo de mim
Precisa perder o medo de mim
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
O que se vê não se via
O que se crê não se cria
Medo medo medo medo
O que se crê não se cria
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da musa
Precisa perder o medo da música
Precisa perder o medo da música
Medo medo medo medo
O que se crê não se cria
Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro
Os pulsos e os punhos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Peste bubonica câncer pneumonia
Raiva rubéola tuberculose anemia
Rancor cisticircose caxumba difteria
Encefalite faringite gripe leucemia
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Hepatite escarlatina estupidez paralisia
Toxoplasmose sarampo esquizofrenia
Ulcera trombose conqueluche hipocondria
Sífilis ciúmes asma cleptomania
O corpo ainda é pouco
O corpo ainda é pouco
Reumatismo raquitismo cistite disritmia
Hérnia pediculose tétano hipocrisia
Brucelose febre tifóide arteriosclerose miopia catapora culpa cárie
cãimbra lepra afasia
O pulso ainda pulsa
O corpo ainda é pouco
Eu nunca mais vou dizer
o que eu realmente penso
Eu nunca mais vou dizer
o que eu realmente sinto
Eu juro, eu juro por Deus
Eu juro, eu juro por Deus
Não confio em ninguém
Não confio em ninguém
Não confio em ninguém
com mais de 30
Não confio em ninguém
com 32 dentes
Fa-cul-da-de
Faculdade mental
Faculdade medicinal
Faculdade
Eu nunca fiz faculdade
Pro - pri - e - da - de
Propriedade associativa
Propriedade particular
Propriedade
Não tenho nenhuma propriedade
Felicidade natal felicidade
Satélite felicidade industrial
Felicidade maravilhosa
Hoje não tem felicidade
U - ti - li - da - de
Utilidade doméstica
Utilidade pública
Utilidade
Não tem nenhuma utilidade
So - ci - e - da - de
Sociedade primitiva
Sociedade anônima
Sociedade
Não vivo em sociedade
Carteira de identidade
Perda de identidade
Identidade dupla
Identidade xerox
Não tenho mais identidade
Deus está debaixo da mesa
O diabo está atrás do armário
Deus está atrás da porta
O diabo está no meio da sala
O que há de errado com meu coração?
Deus está lendo o jornal
O diabo está dançando
O diabo está fazendo o jantar
Deus está escrevendo uma carta
O que há de errado com meu coração?
Deus está sonhando
O diabo está fazendo discurso
Deus está lavando os pratos
O diabo está tocando piano
Deus é o teto da casa
O diabo é a porta dos fundos
O diabo é o chão da cozinha
Deus é o vão da entrada
O que há de errado com meu coração?